“A civilização do espetáculo”, de Mario Vargas Llosa, foi a escolha do meu clube do livro para o mês de janeiro e, por já ter lido o texto “A sociedade do espetáculo”, de Guy Debord na graduação, logo me interessei bastante pela leitura.
Realmente a introdução e o primeiro capítulo do livro fazem essa ponte com a obra de Debord, uma crítica a perda de valores da sociedade, sendo tudo reduzido ao entretenimento. O jornalismo perde seu caráter crítico e investigativo e aumenta o número de reportagens sensacionalistas e cobertura da frivolidade. A literatura também foge do convite a reflexão (seja ela sobre o comportamento humano em um romance ou sobre questões sociais de nossa época). As obras literárias de nosso século são sempre lights, com o intuito de distrair o leitor em sua viagem de metrô ou na fila do banco.
As artes plásticas (e desse assunto eu entendo pouco) almejam chocar, criar uma vanguarda de um movimento sem estética ou propósito. Sobre a música acho que o autor nem cita exemplos, acredito por ser de senso comum que a música contemporânea seja essencialmente comercial. Em resumo, retoma a ideia de que a cultura se transformou em bem de consumo: uma ida ao museu para render fotos no instagram, a compra de um quadro como investimento financeiro e a leitura de um livro para se passar de cult numa mesa de bar.
Os capítulos seguintes abordam temas como política, religião e liberdade sexual.
Posso parecer pedante, petulante, polêmica ou tanto faz, mas não gostei do livro. A temática é ótima e a redação também, mas algumas coisas me incomodaram bastante ao longo do texto e consegui separá-las em três categorias:
1- Mais do mesmo
Muitas vezes notei que o texto apenas descrevia o cotidiano, sem opinião ou reflexão, apenas apontava o óbvio. Sei que isso tem o seu valor na áreas de humanidades, mas alguns trechos me lembravam minhas encheções de linguiça em provas de teoria da comunicação.
2- Crítica dura a meus heróis
Ok, chamar Roland Barthes de herói é um exagero de minha parte, mas ver uma dura crítica a Foucault, Lipovetsky, Baudrillard e tantos outros autores estudados por mim por diversos anos foi difícil de digerir. Além de soar como derrotista e ressentido ao criticar esses teóricos com pouquíssimo embasamento, Llosa ainda usa o termo “cultura ” como a séculos não se usa mais. Faz a distinção de alta (de elite) e baixa cultura (popular), retoma a discussão de que algumas culturas (agora no sentido de hábitos sociais) são superiores a outras, que a cultura de alguns países europeus é melhor do que de algumas tribos africanas, por exemplo.
Esse julgamento de valor me deixou bem irritada, mas não vou me aprofundar pois já citei meus ‘heróis’ da sociologia e quem os conhece sabe o porque deste choque.
3- Generalização e opinião pessoal mascarada
Uma passagem sobre a liberdade sexual e o fim do erotismo chega a ser cômica. Llosa, que diversas vezes critica os sofistas, nos apresenta o seguinte raciocínio sofista-enganador :
Todos os jovens se interessam pelo o que lhes é proibido. A liberdade sexual acaba com o mistério e o pudor do sexo. Logo, os jovens vão atrás de outras coisas proibidas, como as drogas.
OU SEJA, se você conversar abertamente com seu filho adolescente sobre masturbação (que era o assunto em debate no capítulo) ele perderá o interesse em sexo e começará a usar drogas. Jura? Mas você jura mesmo que você disse isso Llosa? Que raciocínio é esse que eu não entendi até agora?
Essa dinâmica de lógica sofista se dá em outros trechos do livro e, a meu ver, só servem para mascarar uma opinião pessoal do autor por pesquisa social fundamentada.
No geral, acho que Llosa conseguiu cumprir um papel importante com seu livro: gerou reflexão e discussão e não foi objetificado com o intuito de entreter os leitores, no caso, as leitoras, já que meu Clube do Livro é composto por mulheres.
Nota: 2/ 5